NOS TRÊS ÚLTIMOS ANOS, 1919 BOMBEIROS MILITARES DA ATIVIDADE FIM FORAM AFASTADOS POR TRANSTORNOS MENTAIS, SENDO QUE EM 773 DOS CASOS O AFASTAMENTO FOI DEFINITIVO...
A saúde mental é uma vertente que tem ganhado importância nos últimos
anos. Segundo os dados da OMS, o Brasil é o país com maior prevalência de
depressão da América Latina e o segundo com maior prevalência nas Américas,
ficando atrás somente dos Estados Unidos, que têm 5,9% de depressivos. Em 2015,
788 mil pessoas morreram por suicídio. Isso representou quase 1,5% de todas as
mortes no mundo, figurando entre as 20 maiores causas de morte em 2015. Entre
jovens de 15 a 29 anos, o suicídio foi a segunda maior causa de morte em 2015.
No CBMDF, a
situação da saúde mental não é diferente. O bombeiro militar, no cumprimento de
sua missão, atua em tragédias ambientais e acidentais que desencadeiam
sofrimento físico bem como desequilíbrio emocional. O constante contato com
questões como a morte, a vida e o sofrimento humano gera um desgaste natural no
bombeiro e, quando ele não consegue lidar de uma forma saudável com os
sentimentos negativos intrínsecos ao seu trabalho, pode apresentar respostas
somáticas e/ou defensivas em relação ao seu trabalho, tais como redução na
produtividade, acidentes de trabalho, fadiga, irritação, hostilidade,
ansiedade, depressão, transtorno do estresse pós traumático, transtorno do
pânico, uso excessivo de álcool e outras drogas, tentativa de suicídio, entre
outros. Além do comprometimento da saúde e das possíveis mortes por suicídio,
essa situação contribui para o aumento das despesas no órgão público.
Dados disponibilizados por meio da ouvidoria do CBMDF (e-sic.df.gov.br,
em 19/12/2017), demonstram que parte significativa dos Bombeiros Militares
estão em processo de adoecimento emocional que culminaram no afastamento de
suas atividades por questões psicológicas. Nos três últimos anos, 1919
Bombeiros Militares da atividade fim foram afastados por transtornos mentais,
sendo que em 773 dos casos o afastamento foi definitivo (vide Gráfico 1). Na
data de 14/12/2017, havia 101 militares com dispensa total de suas atividades
por motivo psiquiátrico e 73 com dispensa parcial,
o que mostra que os bombeiros continuam suscetíveis a desenvolver transtornos
psicológicos.
Esses afastamentos demonstram que é urgente oferecer ao bombeiro militar condições de atuação dentro deste contexto complicado, de forma a não continuar comprometendo sua saúde mental e física. Faz-se mister que o bombeiro militar receba acompanhamento psicológico, ao longo de sua carreira, que o ajude a lidar de forma saudável com as questões ligadas às tragédias, acidentes, sofrimentos, limitações e morte. Neste cenário, a atuação do psicólogo clínico e do psicólogo organizacional e do trabalho é fundamental tanto para prevenir o desencadeamento de transtornos e outros agravos e, assim, fortalecer a corporação para que ela realize plenamente sua missão, quanto para o tratamento daqueles que já se apresentam adoecidos emocionalmente.
São inúmeras as possibilidades de atuação do psicólogo clínico e do
psicólogo organizacional e do trabalho, no âmbito do Corpo de Bombeiros Militar do Distrito
Federal e Territórios. Como sugestão, têm-se:
- Plantão psicológico para atender os bombeiros em situação de crise e emergência;
- Escuta psicológica nos quartéis;
- Orientação e auxílio ao Bombeiro Militar nos atendimentos a pessoas com risco de suicídio;
-Apoio psicológico nas situações de emergências e desastres;
- Programas de prevenção ao uso abusivo de álcool e outras drogas;
- Programas de intervenção em crise e prevenção do suicídio entre os bombeiros;
- Treinamento de habilidades sociais a monitores e professores para atuação nos projetos sociais ofertados pelo CBMDF, como Programa Aleitamento Materno, Programa Bombeiro Mirim, Programa Bombeiro Amigo e Programa Cão Guia;
Dentre outras.
O último concurso para o cargo de psicólogo do CBMDF ocorreu em 1997 e, desde então, há apenas 1 (uma) psicóloga exercendo oficialmente essa função na corporação, de acordo com o site de acesso à informação. O concurso público de 2016, prevê 4 (quatro) vagas para psicólogos clínicos e 1 (uma) vaga para psicólogo organizacional e do trabalho. Observa-se que a corporação possui 5.592 bombeiros na ativa, embora o efetivo do CBMDF seja fixado em 9.703 bombeiros militares de Carreira conforme a lei nº 12.086/09. E, assim, o quantitativo previsto de psicólogos, mesmo considerando as novas vagas disponibilizadas, é insuficiente para a demanda da corporação e mediante às inúmeras possibilidades de atuação do psicólogo.
Dessa forma, são necessárias equipes de psicólogos para instaurar uma nova cultura de cuidado e autocuidado em saúde mental aos bombeiros do CBMDF e seus dependentes e, assim, é fundamental que o CBMDF invista nos profissionais de psicologia por meio da nomeação em quantitativo suficiente para oferecer o devido suporte e acompanhamento dos Bombeiros Militares.
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